O conto “O discurso" foi escolhido para participar do livro antologia Dia dos Pais do projeto appare. Um show.
Leia o conto :
O Discurso.
William Antonio Zacariotto
Um dia muito especial. Olhei à esquerda, exatamente 21 horas. O relógio era redondo, com um fundo escuro e bordas de prata de aproximadamente 40 centímetros. Os ponteiros grandes e metálicos refletiam a logo da câmara municipal e as luzes do local. Assim como o relógio marcava o tempo com precisão, aquele momento marcava o maior elogio que um dia sonhei em prestar aos meus pais.
No centro, uma tribuna de madeira, composta por três mesas, microfones e cadeiras, onde dois vereadores e o vice-prefeito conduziam a sessão. Foi possível notar uma imagem da cruz de Cristo ao centro das quais sempre tive devoção. A presidente, sentada ao centro da tribuna, trajava um vestido social belíssimo que combinava com as cores de seu sapato. À direita, as bandeiras da cidade, do estado e do país criavam um cenário solene e imponente.
A sessão iniciou com uma oração e prosseguiu com a fala da presidente e do vice-prefeito da cidade do interior paulista. Após uns vinte e poucos minutos, um silêncio imperou na Câmara Municipal. Fui chamado para subir à tribuna, meu coração batia forte, olhei ao redor, percebendo a relevância do momento e comecei a falar:
“Boa noite a todos. Inicio agradecendo a todos os membros da mesa e a todos os presentes.”
Após uma pausa, permiti que as palavras fluíssem em minha mente e prossegui: “Nossa família era extremamente pobre, mas meus pais eram bastante otimistas. Meu pai, ceramista, e minha mãe, empregada doméstica, trabalhavam em jornadas extras limpando casas e lojas de empresários da cidade, a fim de garantir um futuro melhor.”
Sinceramente, isso era ótimo, pois, como criança, sempre íamos juntos e, por lá, tínhamos os melhores brinquedos, mesmo que fosse por uma única brincadeira quando os filhos ou proprietários não estavam lá.
Respirei fundo, precisava tomar ar de tão emocionado que se encontrava. Lembrei de pessoas importantes nessa trajetória: “Meu irmão me olhava quando eu era criança, enquanto meus pais trabalhavam para garantir que nós estudássemos e desfrutasse do melhor”.
Os tempos eram diferentes, não havia benefícios nem auxílio do governo. Então, o que fazer? A única coisa possível era trabalhar mais. Para isso, minha mãe migrou das casas para uma loja de máquinas. Mas oito horas diárias eram pouco para o que almejavam, então, resolveram duplicar a jornada limpando mais locais à noite para receber mais.
Virei-me, olhando para a imagem de Cristo na cruz e disse: “E assim, senhor: confiando plenamente em Ti, com a fé que meus pais, que te amam profundamente, me transmitiram, não houve em nenhum momento cansaço ou desanimo. Contamos com os melhores materiais escolares, livros e até mesmo o tão desejado computador, dos quais apenas os ricos o tinham. O meu veio de troca, efetuada por eles limpando lojas de outras cidades, e, aliás, uma delas foi esta que estou. ”
E com um enorme sorriso no rosto, complementei: “A idade chega, e aos 12 anos, tive meu primeiro emprego na prefeitura da cidade como jovem aprendiz. Nesta mesma época, chegou também o tal de computador, e novamente com as bençãos de Deus, eu era um dos poucos que sabia como ligar e como utilizar. ” O domínio do computador era como cantar “atirei o pau no gato”, algo que todos faziam com bastante facilidade.
Com a boca seca, dei um gole no copo de água e segui em frente: “Com o domínio e o conhecimento, me aperfeiçoei, e nesta jornada me levou a assumir a área de processamento de dados do meu município. A tecnologia me abriu portas e permitiu ensinar, ajudar outros, e assim iniciei na trajetória de professor. Do técnico a uma faculdade foi um pulinho, e de ensinar jamais sai da sala de aula. Com o conhecimento, virei coordenador de curso e até mesmo diretor da faculdade local. Criamos juntos um ambiente comunitário aprendido pelos meus pais, estudar, trabalhar e ajudar a todos é a parceria perfeita para o crescimento."
Com lágrimas nos olhos, conclui: “Se estou aqui hoje, devo muito aos meus pais, Natalino e Eva, por estarem à frente de todos, por sonharem que somente a educação é possível mudar a vida das pessoas. Hoje recebo o título de cidadão da cidade porque vocês dois sempre acreditaram em mim. Que Deus ilumine a todos para os pais poderem incentivar ainda mais seus filhos a estudarem e conhecerem o verdadeiro caminho do crescimento.”
Para mim, que escrevo a você leitor, “O maior valor aprendido é a família, o valor dos pais e a perseverança. Os pais deram o principal que é a educação. O sonho de ser alguém e a jornada podem ser construídas quando temos pais que nos ajudam e mostram o que é ético e bom. ”
O discurso terminou naquela noite às 22 horas e 22 minutos. Este número 22 e 22, em numerologia, indica que você está sempre no caminho certo e que seus esforços serão recompensados no futuro. Muitos dizem, sendo um momento para ter fé e confiança em si e no universo, mesmo que as coisas pareçam difíceis ou incertas.
Aplausos ecoaram pela Câmara Municipal, enquanto, com o coração cheio de gratidão, descia da tribuna, sabendo que receberia ali o título de cidadão da cidade.
A realidade e a ficção entram em cena para demonstrar o quanto os pais são importantes na jornada dos seus filhos. Decida você, leitor, se esta história é um conto ou uma experiência, se é verdade ou ficção e, se tiver filhos, construa a sua. Confesso eu estou tentando construir a minha.